Peter Molyneux é um gênio dos games ou do marketing?

Todo ramo de atividade no mundo possui figuras que se destacam por diversos fatores, seja por talento (ou falta dele), polêmicas, discussões, críticas e vários outros. Entretanto, poucas indústrias no mundo possuem figuras que se destacam por serem exagerados em suas declarações. A indústria de jogos já viu várias dessas peças despontarem mas nenhuma delas é tão famosa quanto Peter Molyneux.

Quem acompanha as notícias sobre jogos sabe que vira-e-mexe Molyneux aparece para falar sobre algum conceito, ideia ou vislumbre que teve sobre um jogo mas que geralmente não aparecem no produto final.

Sabemos que ele é gênio pois foi o criador de jogos (e porque não dizer, conceitos) como Populous, o primeiro jogo no estilo “Você é um deus. Controle seu povo” ou seu mais famoso Fable, além de ser um RPG fantástico, tinha a premissa de refletir as decisões e ações morais realizadas no jogo na pele de seu personagem, mudando aparência, tom de voz e outros aspectos físicos. Só que Fable também foi o primeiro jogo onde a estigma de Molyneux começou a aparecer.

Durante o desenvolvimento do primeiro Fable, Molyneux não poupava palavras para falar do jogo. Chegou a dizer que seria o melhor RPG de todos os tempos mas reconheceu anos depois que talvez tenha sido uma das piores coisas que já disse. Além disso, algumas features prometidas não entraram no jogo, como a possibilidade do protagonista ter filhos. Acabou se desculpando depois pela ausência das funcionalidades o que não impediu que Fable vendesse mais de 2 milhões de unidades no mundo, sendo 375 mil só na primeira semana. Nada mal para um game em 2004 para XBox.

Apesar das gafes nessa ocasião, Molyneux nunca deixou de fazê-las. O britânico protagonizou outras promessas nas sequências de Fable e levou ao extremo quando apresentou o Milo, aquele garotinho bizarro que interagiria com você e o Kinect, lembram?

A mais recente peripécia de Molyneux foi o Curiosity (não é aquela da NASA). Primeiro jogo de sua empresa, a 22Cans, Curiosity foi lançado como um experimento social. A premissa era simples: em um esforço conjunto, os jogadores deveriam quebrar um cubo gigante até um único sortudo chegar ao seu centro onde haveria, petermolyneuxerismo alert: something life-challengingly amazing.

Ele foi lançado em novembro de 2012 e somente agora (dia 26/05/2013 para ser mais preciso) um jogador britânico finalmente atingiu o objetivo e, bem, The cake was kinda lie. O vencedor do prêmio recebeu um vídeo onde o próprio Molyneux o convidava para ser o deus de seu novo jogo, o GODUS, sendo o responsável por criar as regras que regerão os jogadores que o comprarem. Além disso, o vencedor teria a famosa PL, ganhando parte dos lucros obtidos com o vindouro jogo.

Vamos recapitular então: Peter Molyneux chamou a atenção de todos com um jogo classificado como experiência social com o pretexto que no final existiria algo que mudaria a vida do ganhador. Milhões de pessoas toparam e baixaram o jogo (que era de graça mas possuía uma loja online que dava aos jogadores mais possibilidades). No final, o prêmio era um emprego para o ganhador.

Aí entra meu questionamento: A genialidade aqui está no jogo ou no buzz gerado por ele?

Vejamos, a hashtag #whatsinsidethecube ficou nos Trend Topics durante todo o fim de semana; só o vídeo da divulgação do ganhador no canal oficial da empresa tem mais de 400 mil views (fora os outros meios que divulgaram o vídeo); todos os sites de games no mundo noticiaram o fato E mostraram o vídeo do que tinha dentro da caixa e o que todos ouviram foram simplesmente o nome do próximo jogo da 22Cans. Se isso não foi uma jogada de gênio, não sei mais o que é.

O jogo foi financiado pelo Kickstarter e o que chama mais atenção é que o projeto quase não conseguiu fechar o orçamento, sendo o montante alcançado somente 2 dias antes do fim. Na época o jogo pouco aparecia na mídia e talvez por isso não tenha feito tanto sucesso. Agora, entretanto, referências ao jogo são feitas em todos os sites de notícias e voltou aos olhos da comunidade que já tinha esquecido o game. Fala a verdade, não é uma jogada de mestre?

Eu realmente espero que GODUS seja um bom jogo. Joguei muito Fable e adorava Black and White então acho que terá potencial.

Considero Molyneux uma mente com ótimas idéias e que produz ótimos jogos mas aprendi com o tempo a ficar com um pé atrás em suas declarações e vislumbres sobre seus jogos. O que não se pode negar é sua incrível habilidade de gerar atenção para suas criações, o que o torna uma figura genial também (talvez até mais) no campo do Marketing.

Apenas pra acompanhar a internet, segue ai embaixo o vídeo com o prêmio do Curiosity.