Caminhando e cantando e evoluindo a canção

Durante uma entrevista à rede americana ABC em 2005, o repórter pergunta a seu entrevistado se existia consigo um conflito entre ser um homem negócios bem sucedido e um arquiteto de software. Sua resposta não poderia traduzir melhor a filosofia de sua companhia:

The way to be successful in the software world is to come up with breakthrough software, and so whether it’s Microsoft Office or Windows, its pushing that forward. New ideas, surprising the marketplace, so good engineering and good business are one in the same.

Numa tradução livre, Bill Gates quis dizer que para sobreviver no mundo de softwares, é preciso trazer um sistema arrasa-quarteirões, divisor de águas, e continuar seguindo em frente com novas idéias e surpreender o mercado. Uma boa engenharia e bons negócios são a mesma coisa.

De certa forma, essa filosofia foi mais uma vez comprovada depois da Conferência realizada hoje pela Microsoft, diretamente de sua sede em Redmond. Com o anúncio do Microsoft Hololens, a empresa não só reafirma o consenso de que analistas não acertam as previsões ou nem fazem ideia do que estar por vir, mas principalmente exalta a característica que a gigante de Tio Bill Tio Satya mais vem colocando a prova: sua capacidade de inovação.

É uma prática de mercado acompanhar tendências e criar produtos concorrentes das maiores novidades populares da semana, vide os [insira-seu-item-aqui]-killers que pipocam a cada novo software, hardware ou serviço muito popular. Vejam bem, acompanhar tendências não é nada além do que uma ideia difundida de manter seu negócio funcionando.

Porém, uma coisa é copiar descaradamente e outra é entender o produto e o mercado no qual está inserido e as necessidades que ele supre; e não somente iterar mas sim evoluir e melhorar o conceito.

Na história recente da Microsoft (apenas para não ir muito lá atrás), percebo que a empresa seja talvez a maior expoente em inovação tecnológica dos últimos anos. Pode parecer um pouco fanboyismo, mas observando esse período consigo me lembrar de muitas coisas realmente refrescantes vindas de Redmond, diferentemente de outras empresas.

Veja o caso da Xbox Live, que nasceu em 2002 junto com o primeiro Xbox como uma mera possibilidade de comunicação entre consoles e se tornou uma referência em comunidade e jogos online. Da mesma forma, a empresa evoluiu, e não apenas iterou, diversos outros conceitos como uma interface baseada em tiles, indo contra a maré de bordas arredondadas de iPhone e Android, um sensor de movimento full body, ao contrário do pioneiro Wiimote e o pirulito da Sony (sorry), integração de software em múltiplas plataformas e uma mesa sensitiva para uso exclusivo em seriados policiais americanos 😉

Até em experiências consideradas fracassadas ou ainda engatinhando, como a interface híbrida baseada na experiência touch do Windows 8 no primeiro caso, ou a Cortana no segundo, já vemos o quanto o setor de R&D da Microsoft vem trabalhando.

O Microsoft Hololens anunciado hoje, pode ser apenas mais um óculos de realidade aumentada para alguns, mas traz uma visão diferente e, porque não, mais palatável da experiência de AR do que Oculus Rift, Google Glass ou o Morpheus da Sony vinham concebendo. Além de dispensar qualquer componente externo, por já ter CPU, GPU e uma HPU (Holographic Processing Unit), essa belezinha ainda conta com surround para completar a imersão e uma feature muito útil e ausente na concorrência: você consegue enxergar para onde está andando – Google Glass excluído puramente para efeitos de concluir minha argumentação com sucesso 😉.

Aliás, falando nisso e puxando a sardinha para os jogos, o óculos holográfico da Microsoft pode trazer uma experiência diferente do que estávamos rumando. Inicialmente projetados para substituir totalmente a visão do jogador por uma imersão completa no dispositivo, Oculus Rift Morpheus da Sony podem até proporcionar maior imersão mas ficam limitados a uma aplicação específica e um desenvolvimento muito focado em suas especificações.

Com o Hololens as possibilidades se expandem, já que será possível adicionar features específicas para quem possui o gadget sem atrapalhar a experiência de quem não possui. Além disso, as experiências em jogos poderiam expandidas com conceitos semelhantes ao que foi utilizado em Spirit Camera do Nintendo 3Ds, onde o próprio ambiente servia de cenário para os jogos.

Ou posso estar redondamente enganado e caindo na minha própria crítica sobre analistas, vai saber. 

O fato é que todo esse histórico eleva a empresa de Redmond como um grande expoente de inovação da indústria de tecnologia atual e me faz ter certeza de que trabalhar na área de pesquisa da Microsoft é, no mínimo, uma delícia.