O produto é nosso mas quem ganha é você?
Acho marketing uma área espetacular. As pessoas que trabalham para induzir um potencial consumidor a comprar seu produto, em geral, precisam ter ideais diferentes e soluções criativas para as mais diversas situações e produtos a serem vendidos. Aprecio quando empresas atraem o público com uma propaganda inteligente, uma ação inovadora ou uma promessa de mudar a vida do consumidor.
Essa área eventualmente cria peças extremamente eficientes, como o slogan “O aniversário é nosso mas quem ganha é você!”, que já é um clichê de qualquer campanha relacionada ao aniversário de uma marca mas ainda funciona que é uma beleza. Essa filosofia, aliás, se tornou uma ótima maneira de trazer clientes para sua marca.
O fato é que qualquer tipo de oferta de produtos que ofereçam, em troca de seu rico dinheirinho, um prêmio, brinde ou qualquer coisa além do que você inicialmente queria chama a atenção das pessoas e a mínima possibilidade de ganhar um puta prêmio só por ter comprado uma caixa de leite e 2 peras (não é pra mim, é pra… pra… volta pro texto!) já leva nos leva a abrir a carteira.
Outra forma de fazer os consumidores gastarem rios de dinheiro são as mega-promoções como preços absurdamente baratos. Junte diversos produtos em um único pacotão com 60% de desconto e veja o dinheiro fluir em direção ao seu caixa, vide os Summer Sales da Steam que deixam todo mundo pobre quando acontece (ainda bem que não jogo no PC). Apesar de não te dar nada efetivamente, a sensação nesse tipo de promoção é que pelo preço de um produto normal eu estou ganhando vários outros.
Uma moda que pegou na atual geração de consoles e que é largamente utilizada por diversas lojas no mundo inteiro é a de ofertas de conteúdos exclusivos. Começou para tentar diminuir a pirataria e venda de jogos usados mas acabou virando mais um meio de atrair consumidores.
As próprias publishers oferecem conteúdo exclusivo para quem fizer Pre-Order, como acesso antecipado ao multiplayer (caso recente de Mass Effect 3) ou conteúdo de graça (que eventualmente será disponibilizado depois como um DLC pago).
Entretanto, para levar os consumidores a comprar um jogo em Pré-Venda na sua loja ao invés de optar pela concorrente, muitas das grandes redes de jogos e demais lojas que vendem de alguma forma videogames tentam oferecer DLCs gratuitos que a concorrente não tem como novas armas, skins, cenários. Outras vão ainda mais além, oferecendo qualquer outro mimo como bonés, chaveiros, camisas, poster, um abraço…
Todos esses itens são ótimos atrativos realmente. É sério. Quando comprei The Last of Us, ganhei um poster da capa do jogo e fiquei mega contente. Tal como um ataque de fogo num Pokémon tipo planta, o movimento foi super efetivo e hoje só compro jogos naquela loja na esperança de que algum dia vou ganhar outro brinde desses.
Falando em Pokémon, a Nintendo também inventou sua própria forma maligna de “presentear” seus consumidores com um jogo grátis. O Nintendo 3DS possui uma funcionalidade chamada StreetPass Mii Plaza, onde você pode jogar com pessoas que também tenha o 3DS apenas passando por elas. O Street Pass é composto basicamente por mini-games onde a pessoa pode gastar dinheiros para comprá-los.
Recentemente a Nintendo lançou uma promoção onde você leva um jogo por 500 ienes ou 4 por 1500 ienes. Simples, porém genial. Tão genial que em apenas um mês a estratégia já rendeu $4 milhões aos cofres da empresa japonesa. O mais interessante é como a empresa te oferece essa oportunidade imperdível: um coelhinho maroto aparece como se fosse seu melhor amigo e diz “Olha, tem esses joguinhos aqui que custam 500 cada. Mas você pode levar os 4 pelo preço de 3. Você não vai ter isso comprando cada um separado! Olhaí… Oportunidade da sua vida”.
Mas isso não é nada perto da nova onda que está se popularizando. Estamos agora subindo de nível, indo para um patamar mais elevado de gimmicks para atrair um consumidor e nos fazer gastar nosso rico dinheirinho: melhorias graduais nos brindes.
Funciona assim: Se atingirmos essa meta $X, te damos um chaveiro; atingindo a meta $Y, te damos um chaveiro e um boné; atingindo a meta $Z, te damos um chaveiro, um boné e um poster e assim sucessivamente.
Se você é uma pessoa astuta, já sabe onde isso começou né: Sim, no Kickstarter.
Não estou falando da quantia que você vai dar ao Projeto mas sim do valor total que ele conseguiu até o prazo de fechamento do financiamento. É um artifício desleal utilizado pelos donos do Projeto para fazer com que cada vez mais pessoas comprem aquela ideia. O pior é que muitas das vezes os caras adicionam prêmios à medida em que o dinheiro sobe e ai você QUER atingir aquele patamar só pra ganhar aquele abridor de garrafas cromado com o brasão do jogo.
Um ótimo exemplo do que estou falando é um Projeto já finalizado chamado Alea Tools: Magnetic Status Markers Color Boost. A ideia é ótima, bases magnéticas coloridas para você colocar sob seus action figures para indicar status de personagens numa sessão de RPG de mesa. O Projeto pedia inicialmente $750 e daria 18 bases em 9 cores diferentes.
A parada fez tanto sucesso que a empresa começou a adicionar mais e mais cores e a propor mais e mais metas de valores oferecendo assim mais e mais brindes. Dessa forma, o valor arrecadado foi subindo cada vez mais, iniciando o ciclo mais dinheiro -> mais brindes -> mais dinheiro. Acho ainda até que quem já tinha financiado começou a dar mais grana só para ter mais brindes, o que seria surreal.
O Projeto fechou com quase $30.000 e com um quinquilhão de bases coloridas, bonés e maletas que eu teria perdido a conta caso tivesse financiado o Projeto. Veja bem, não estou criticando. O modelo funciona e quem gastou dinheiro está saindo na vantagem. A questão aqui é que tudo isso é de certa forma um artifício para chamar mais gente para comprar.
Os Projetos de jogos também não ficam para trás: grandes sucessos como a adaptação do RPG Tormenta, uma nova IP da Obsidian e até mesmo o promissor jogo brasileiro Chroma Squad utilizam este que parece ser um modelo de sucesso atualmente. Mesmo que não sejam brindes físicos, o incremento da história ou adição de itens ingame a medida em que a quantidade de dinheiro aumenta serve de atrativo para que pessoas continuem vindo e fornecendo mais grana.
Outro artifício que está sendo utilizado atualmente é colocar VOCÊ como um personagem dentro do jogo ou fazer uma referência em algum momento dele. Muitos Projetos no Kickstarter oferecem de um jeito ou de outro a possibilidade de ter um pedaço seu dentro do jogo, seja quando atingem uma meta seja doando uma determinada quantia para o Projeto.
Essa aliás parece ser uma próxima tendência da indústria. Para o próxima jogo da Ubisoft da série Assassins Creed, a empresa lançou uma página onde você pode colocar sua foto em uma das muitas posições de uma mega pintura. As mais votadas serão desenhadas e a pintura será exposta em um Museu na França.
Em geral, esses brindes são ótimos já que nos dão uma sensação de estar levando mais por menos, saindo na vantagem. O Kickstarter elevou o nível desses brindes e agora parece que tudo o que as lojas oferecem como agrado não são suficientes. Mas não podemos negar que isso nada mais é do que mais uma tática muito bem elaborada de marketing, equivalente aos combos da TV a cabo ou o trio das Fast Foods.
Pode ser que tenhamos nessa próxima geração uma nova forma de atrair o consumidor, o que é bom pra nós e péssimo para quem vende caso esse modelo não consiga ser bem adaptado. É bem provável também que esse tipo de agrado saia da esfera de games e coisas nerds e que em breve tenhamos as lojas de departamento oferecendo brindes sucessivos caso uma quantidade de caixas de leite e quilos de pera seja atingida. Não que eu vá comprar.