Xbox One modular! Já vi esse filme ou vai ter plot twist?
Tive a sorte de ter tido um pai que sempre foi aficionado por tecnologia. Desde cedo fui apresentado a computadores, programação e interfaces pretas que hoje só são utilizadas por quem utiliza Linux (eu sei). Mais do que isso, meu velho era um apaixonado por videogames e, graças a esse gosto, tive a oportunidade de jogar em quase todas as plataformas dos primórdios videogamístico.
Um dos consoles que mais joguei e gostava foi o Mega Drive, onde gastava horas jogando coisas como Moonwalker, World Cup Italia 90′ e Super Volleyball. Nem vou citar Sonic porque é óbvio.
Lembro como se fosse hoje o dia em que meu pai me arrastou, junto com meu irmão, para uma pequena loja de videogames na Tijuca e nos agraciou com o SegaCD. Era uma coisa linda, uma caixinha de CD com jogos. Qual não foi minha surpresa quando chegamos em casa e descobrimos que aquela caixinha quadrada tinha que ser acoplada no Mega Drive. Foi lindo!
Porém, a história já está escrita e todos sabemos que o Sega CD foi um desastre de vendas, tanto que foi praticamente lançado junto com o Saturn. Mais tarde, a Nintendo tentaria novamente estender a vida útil do Nintendo 64 com o Expansion Pack, que lembro vir junto com o Perfect Dark e que tinha o objetivo de aumentar a memória do console. O jogo citado, por exemplo, não permitia jogar o multiplayer caso você não tivesse o cartuchinho. Novo fracasso e desde então, não ficamos mais sabendo sobre nenhuma iniciativa de consoles modulares ou com peças extras.
Por esse motivo, as declarações de Phil Spencer no início do mês (ao que tudo indica, informação vazada que não deveria ir a público), levou o mundo a saber que a Microsoft está planejando transformar o Xbox One em uma plataforma modular. Está sendo especulado que, ao invés de lançar a tradicional versão slim de seu console, a empresa de Redmond traria uma nova versão com capacidade de expansão.
As informações em si estão meio bagunçadas, tanto que hora Phil Spencer desmente completamente a declaração, hora dá deixas sobre como essa modularização não exigiria que o console fosse desmontado como um PC, (semelhante ao Steam Machine) mas sim algo mais parecido com slots para remover e colocar novas partes, um pouco parecido como o Expansion Pack do Nintendo 64.
O fato é que, após a declaração inicial, começou-se a especular que pelo menos três tipos de upgrades estariam disponíveis: Processador, Placa Gráfica e Memória RAM.
Muitos sites estão decretando a morte do console, apresentando diversos pontos:
Ahhh, mas se eu quisesse fazer upgrade eu ia pro PC
Particularmente acho essa visão um pouco limitada dado o potencial que poderemos ter com essa decisão. Vejam bem, consoles são caixas fechadas que permanecem assim por 8, 9 anos. Nesse meio tempo, o hardware já evoluiu o suficiente para que mesmo a placa de vídeo mais avançada na época do lançamento do console, por exemplo, seja não só muito mais barata como obsoleta a esse ponto.
Em um mundo onde obsolescência programada já está tão entranhado na sociedade que ninguém se importa de comprar um IPhone novo a cada ano, permitir que você possa trocar uma ou outra peça essencial expande e muito a vida útil do aparelho me parece um ótimo negócio. Além disso, você ainda tem uma caixa dedicada de jogos na sua sala.
A medida que os anos passam, os desenvolvedores otimizam as engines, o que melhora a qualidade técnica e gráfica do jogo.
Isso é a mais pura verdade! “Tirar leite de pedra” é uma expressão que cansamos de ouvir no final da geração passada com títulos como The Last of Us, Bioshock Infinite e outros AAA que deixaram todos embasbacados. Essa otimização, porém, consome tempo das equipes. Tempo este que poderia talvez ser utilizado para outros aspectos no jogo.
Otimizar um código para novos hardwares é realmente um problema, vide os recentes casos de Batman: Arkham Knight, que tiveram sérios problemas no PC e até hoje ainda rodam meio capenga.
Porém, sabemos que a Microsoft vem fazendo um belo trabalho em aproximar cada vez mais suas plataformas e as questões de otimização para uma ou outra plataforma iriam girar em ajustes baseados na capacidade de seu componente atual.
Dê adeus ao Xbox no Brasil porque esses componentes vão custar o olho da cara e ninguém vai trocar isso todo ano.
Esse talvez seja o ponto mais sensível de todos. Relacionando com o assunto anterior, se a Microsoft optar por ciclos de trocas muito curtos, os developers não conseguirão acompanhar a evolução, influenciando diretamente na qualidade dos jogos.
O segundo ponto realmente é o preço. Hardwares novos nunca são tão baratos e, se pensarmos que além de novos serão “personalizados” para o console, acrescente uma camada de preço extra. Naturalmente esses custos podem ser subsidiados mas ainda sim seria um custo a mais que acredito que poucos estariam dispostos a arcar. Esse fato nos leva ao terceiro ponto:
Adoção em larga escala. Parte do problema pelo qual o Nintendo 64 passou foi porque parte de sua base de usuários não tinha um componente principal para rodar jogos mais novos. A própria Microsoft passou por isso com o Kinect, que meio que foi afundado justamente porque ninguém se interessou tanto (apesar de ter vendido muito) e em pouco tempo a maior parte da base instalada não tinha o dispositivo, não justificando o desenvolvimento para ele.
Dessa forma, a Microsoft teria que usar ciclos longos de troca, algo como 4, 5, 6 anos, para garantir que as desenvolvedoras tenham tempo de se adaptar e que os consumidores tenham tempo para comprar.
Em resumo, acredito que seja uma proposta ousada da Microsoft. Vai existir uma linha muito tênue entre expandir as capacidades do console e simplesmente trazer a dúvida do “será que esse jogo roda” para uma plataforma onde os jogadores já estão acostumados a colocar o jogo e rodá-lo.
Se der certo, essa estratégia vai mudar a forma como os consoles são vistos. Eu vejo isso com bons olhos: é uma forma de manter a característica principal da plataforma (ser uma caixa preta de jogos), manter seu hardware sempre relevante e estender a vida útil do produto.
Acredito, entretanto, que a Microsoft deva esclarecer urgentemente sua estratégia para a marca Xbox, visto que nos últimos dias temos tido informações sobre cancelamento de jogos, fechamento de estúdios, perda de exclusividade de jogos e por aí vai. Trazer mais insegurança para a marca no momento em que seu produto vende quase 3 vezes menos que o concorrente, não é exatamente uma boa estratégia.